Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Quando vão baixar os preços das casas?

15/09/2021

Os preços dos imóveis não baixam por boas razões. Baixam por incidentes de teor financeiro, como a grande recessão que ocorreu em 2008, que gerou grandes mudanças e perturbações nos mercados financeiros e consequentemente no mercado imobiliário. Além disso, podem baixar devido a fenómenos sociais graves, como revoluções ou atentados terroristas. Portanto, historicamente são este tipo de incidentes que podem fazer baixar o preço das habitações. Teoricamente também poderiam baixar se a oferta aumentasse abrupta e de modo significativo, o que é pouco previsível. Posto isto, é bom para todos que o preço das casas não baixe.

Hoje em dia, fala-se sobre as flutuações do mercado imobiliário. Para a generalidade das pessoas este tema é muito pouco interessante. É um tema que interessa aos fundos imobiliários, a quem presta serviços aos family office (vulgo consultoria em investimento e gestão), a entidades financeiras, a grandes promotores imobiliários e aos prestadores de serviços desta área. São estes que têm interesse em conhecer as variações que o mercado apresenta em cada momento, nas suas diferentes especificidades.

Em termos globais, e para a generalidade das pessoas, interessa perceber quais as perspetivas de valorização do imóvel que compraram.

Fala-se muito dos preços elevados praticados nas grandes metrópoles de Portugal, como a área metropolitana de Lisboa (AML) e a área metropolitana do Porto (AMP). É um facto que estas zonas se estão a tornar inacessíveis para parte muito significativa da população Portuguesa. Estão desalinhadas com o nível de rendimentos que as pessoas ganham. E também é um facto que por isso mesmo, há muitos concelhos do nosso País que estão a conhecer novos e significativos fluxos de procura habitacional. Além disso, há muitas aldeias do nosso País que estão a conhecer um novo repovoamento.

Se é importante que as Câmaras Municipais e o Governo promovam a criação de soluções de oferta mais acessíveis? Claro que sim! Têm o dever de eliminar a desigualdade habitacional e zelar por um direito Constitucional que a todos assiste.

Mas para que todos consigamos ganhar com o facto de determinadas zonas do nosso País estarem sujeitas a grande procura com consequente aumento de preços, é necessário deixar o mercado funcionar. Quando as transações imobiliárias sobem em valor, é também a economia nacional que está a beneficiar dessa realidade.

Se o mercado imobiliário enfrentasse uma queda de preços demasiado acentuada os efeitos seriam desastrosos nos anos seguintes, principalmente pela desconfiança que de imediato seria despoletada nos mercados financeiros. Se as casas ficassem mais baratas, o financiamento seria mais difícil de obter, uma vez que este assenta num conjunto de pressupostos, onde ocupa lugar preponderante a perspetiva do valor dos ativos imobiliários que são financiados pelos Bancos.

Quando alguém obteve um empréstimo bancário para comprar uma casa, caso essa garantia tivesse o seu valor reduzido, as consequências previsivelmente não trariam nada de bom.

Talvez seja necessário assumir que há diferentes aspetos na mesma equação.

Um é o do direito à habitação e o dever do estado em proteger os mais frágeis no acesso a uma habitação digna e adequada. Outro é o mercado e as suas características, neste caso potencialmente geradoras de valor para a nossa economia, ou seja, para todos.