Francisco Campilho
Francisco Campilho
Presidente da Comissão Executiva da VICTORIA Seguros

Reflexões para o Verão

12/07/2023

Numa altura em que os países do hemisfério norte entram num período de férias, é também importante perceber para o que caminhamos no regresso em pleno à atividade, no final de agosto. Os pontos de reflexão que levo comigo relativamente ao setor do investimento e da promoção imobiliária são também um resumo desta primeira metade de 2023 e a projeção do que poderá ser a sua segunda metade.

Começando pelo enquadramento regulatório, não consigo deixar de fazer o paralelo com os excessos de prescrição: resolver um problema real como o da habitação (que é conhecido há muito tempo) com pacotes de legislação que têm mais preocupação com o marketing das ideias, do que com a capacidade de as realizar. Um Estado com problemas de financiamento e de gestão, que se traduzem num deficiente serviço na saúde, na educação e na justiça, quer avançar com muito voluntarismo para o setor do investimento e promoção imobiliária da habitação. O que podemos esperar não é com certeza a resolução dos problemas, mas, como se tendo vindo a observar até agora, o aumento das dificuldades: investidores que deixam de considerar o nosso país, redução da promoção de novos projetos habitacionais, mercado de arrendamento em queda, mas com rendas em alta… Resta-nos aguardar que a maior abertura ao diálogo com outros parceiros, nomeadamente da iniciativa privada, permita encontrar um caminho de viabilidade para pôr em prática várias soluções que visem a resolução deste problema complexo.

Relativamente ao enquadramento económico, a persistência da inflação, ainda que em valores mais moderados, leva-nos a pensar que o período de taxas de juro mais altas não está para acabar. Os repetidos anúncios por parte do Banco Central Europeu de mais subidas da taxa diretora, por forma a credibilizar a vontade de redução da inflação, leva-nos a pensar que ainda não estamos numa fase de “planalto” e muito longe de se ouvir falar de reduções. Neste contexto de financiamento, todos os investimentos, nomeadamente os imobiliários, tornam-se mais exigentes e seletivos, levando a uma quebra da atividade. Os preços do imobiliário deveriam neste cenário ajustar-se em baixa. Em muitos países, porventura com mercados mais maduros e em que a escassez da oferta não é tão sentida como no nosso, essa queda já se verificou. No entanto, a persistência de valores elevados continua a fazer correr tinta em muitos mercados em que a reação tarda ou não ocorre.

Estes são dois dos pontos de reflexão que manterei sob observação durante este período. Outras tendências como o regresso do trabalho presencial, os condomínios fora das grandes cidades, a sustentabilidade, continuarão a evoluir e estarão presentes em muitas decisões no período pós-férias.