Patrícia Barão
Patrícia Barão
vice-presidente da APEMIP

Repensar o futuro da habitação

23/04/2025

Hoje, vivemos um momento de transição. As dinâmicas que antes amorteciam este desequilíbrio estão a mudar, o que abre espaço para uma reflexão profunda e, acima de tudo, para a construção de um novo modelo de acesso à habitação mais justo e adaptado à realidade atual.

Os dados falam por si: os preços das casas aumentaram significativamente nos últimos anos. No entanto, esse crescimento foi, durante algum tempo, suavizado por dois fatores essenciais – o crédito bancário e o património herdado. A combinação de taxas de juro reduzidas, prazos alargados e critérios de concessão acessíveis permitiu a muitas famílias concretizar a compra de casa. Ao mesmo tempo, a herança de imóveis familiares desempenhou um papel relevante ao proporcionar um apoio adicional à entrada no mercado habitacional.

Contudo, à medida que o cenário económico e demográfico se transforma, também estes pilares têm vindo a mudar. A subida das taxas de juro, o reforço dos critérios de risco e o encurtamento dos prazos de financiamento tornam o crédito mais exigente. Paralelamente, o envelhecimento da população e a maior longevidade dos pais alteram a forma como os imóveis herdados são utilizados, muitas vezes convertendo-se em apoio às necessidades dos próprios progenitores, em vez de serem transmitidos às gerações mais jovens.

Este novo contexto representa, sem dúvida, um desafio – mas também uma oportunidade única de repensar o acesso à habitação em Portugal. A realidade dos jovens adultos, que muitas vezes adiam a saída de casa dos pais ou não consideram viável a compra de um imóvel, aponta para a necessidade de soluções mais inclusivas e adaptadas à nova realidade social e económica.

O que estamos a viver não é uma crise passageira, mas sim o início de uma mudança de paradigma. E essa mudança pode, e deve, ser encarada com otimismo. Temos agora a oportunidade de construir um modelo habitacional mais resiliente, que vá além da dependência exclusiva da compra de casa e abrace alternativas como o arrendamento acessível e a habitação cooperativa, entre outras soluções inovadoras.

Mais do que nunca, é tempo de investir numa política de habitação ambiciosa, que promova a criação de oferta acessível e diversificada, e que garanta aos jovens portugueses oportunidades reais de autonomia e estabilidade. Isso implica compromisso, visão de futuro e, sobretudo, vontade de fazer diferente.

A estrutura anterior está a dar lugar a um novo caminho. E esse caminho, embora desafiante, pode conduzir a uma sociedade mais equilibrada, onde o direito à habitação seja verdadeiramente acessível a todos. Cabe-nos agora, com lucidez e determinação, desenhar um novo capítulo que responda às necessidades do presente e prepare um futuro mais justo e habitável para todos.