Luis Lima
Luis Lima
Presidente da APEMIP

Resiliência e prudência

31/03/2021

Tradicionalmente, o segundo semestre do ano reúne sempre o maior número de vendas de casas, e 2020 não foi exceção. Em termos globais, podemos aferir que o mercado imobiliário conseguiu demonstrar a sua resiliência ao longo do ano, apesar de todas as dificuldades decorrentes da situação pandémica.

Esta resiliência foi assunto sobretudo no mercado interno, que concentrou mais de 80% das transações, com uma procura a manter-se elevada nos segmentos médio e médio baixo, até pela inexistência de um mercado de arrendamento competitivo, que se apresente como uma alternativa habitacional, o que se confirma facilmente com os números da concessão de crédito à habitação no decorrer do ano.

Numa situação normal, a tendência seria a da migração da procura por compra, para a procura por arrendamento, mas no nosso País o arrendamento habitacional continua a não ser competitivo.

Quando comparamos o valor das rendas praticadas com aquela que seria uma prestação de crédito à habitação, verificamos que, na taxa de esforço mensal de uma família, a prestação de do empréstimo seria inferior, para um bem que é também um investimento, o que faz com que o arrendamento deixe de ser uma alternativa habitacional para ser o último e único recurso para quem não consegue, por diversos motivos, reunir as condições necessárias à obtenção de crédito. E por isso, a procura para comprar continua elevada, com um mercado a não ter oferta suficiente para lhe dar resposta, o que faz com que os preços continuem a subir.

A taxa de variação média do Índice de Preços da Habitação fixou-se nos 8,4%, registando um ligeiro decréscimo de 1,2% face ao ritmo de crescimento dos preços observado em 2019, mas em termos do investimento que os alojamentos habitacionais terão representado, este terá concentrado, em 2020, um total 26.186.534€, mais 2,4% que em 2019.

Este desequilíbrio entre a elevada procura e a pouca oferta é o motivo principal pelo qual os preços não recuam. Mas o mercado deve manter-se atento, pois é natural que com o aumento do desemprego e da instabilidade laboral causada pela crise pandémica, os jovens e famílias se retraiam e receiem avançar com um negócio tão importante como a compra de uma casa.

A pandemia não passou, e importa que o sector imobiliário seja prudente e esteja atento àquela que é a realidade das empresas e de quem está no terreno, que nem sempre é tão ‘glamorosa’ como por vezes se quer fazer parecer.

Claro que os resultados de 2020 nos deixam positivos e otimistas, e confirmam o imobiliário como uma alternativa segura de investimento, mas é imperativo que haja cautela e uma monitorização aproximada das alterações das dinâmicas entre a oferta e a procura, pois as dinâmicas do sector poderão de alguma forma ficar reféns do desempenho pandémico.