Vejamos os dados da Eurofound – a Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho – sobre as dificuldades de acesso à habitação na UE, que nos dizem que 10% das famílias temem não conseguir pagar a casa em três meses, que há menos jovens com capacidade para ter casa própria, e que um quinto dos portugueses acredita que pode vir a ter dificuldades a pagar as despesas correntes da sua casa.
Estes dados espelham bem o desagrado dos portugueses, e dos jovens, apesar de não serem surpreendentes. Afinal, foram eles que conduziram a que o Governo trouxesse para a sociedade as medidas de apoio à habitação.
Então, quais são as variáveis desta equação? Uma delas é o fator “tempo”, que importa principalmente para os nossos jovens. Um jovem que esteja a iniciar o seu projeto de vida, dificilmente ficará cinco ou seis anos à espera que em Portugal haja uma mudança na oferta habitacional. E o tempo, também na habitação, é como um “taxímetro” a funcionar. À medida que o tempo avança, o custo é cada vez maior.
Quando não temos resposta para um jovem que quer iniciar a sua vida, estamos em simultâneo a contribuir para um número que já é dramático: na última década, saíram de Portugal 194 mil jovens licenciados, (tiveram para o estado Português um custo estimado em 18,6 mil milhões de euros) e hoje contribuem para o desenvolvimento económico de outros países. Ao mesmo tempo, agrava-se o envelhecimento da população e piora (ainda mais) o nosso lugar no ranking dos Países com população mais velha.
Se por um lado é sinal evidente do aumento da esperança média de vida, talvez seja bom não excluir da “equação” os custos financeiros associados ao acompanhamento e cuidados imperativos à população mais idosa.
Olhemos ainda para a exigência da eficiência energética dos imóveis. A habitação é responsável por quase 30% das emissões de CO2, por isso sabemos que é incontornável dotar os imóveis, todos, de níveis adequados de eficiência energética. Esta mudança vai onerar a construção tal como a conhecemos até aqui. Como vamos fazer?
Todas estas variáveis, aparentemente distantes, estão intrinsecamente ligadas.
Precisamos de reter a população jovem, precisamos de acolher mais migrantes para trabalharem e contribuírem para o crescimento económico do nosso País, precisamos de cumprir com as metas de descarbonização, precisamos de ter excelentes condições para cuidar da população cada vez mais idosa e precisaremos também de casas para todos.
É um “entrançado” que traz naturalmente muitas incógnitas, muitas perguntas sem resposta, mas uma enorme certeza: as respostas a esta complexa equação vão exigir determinação, rapidez de resposta e muita coragem.