Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Sem mão-de-obra, não há fundos que cheguem ao imobiliário

08/03/2023

Quando olhamos para os resultados, constatamos que nos últimos dez anos construiu-se em média 15.000 imóveis residenciais por ano, menos de 10% dos imóveis residenciais transacionados em 2022.

Redução também significativa ao longo dos últimos meses, em resultado do encarecimento dos custos que foram afetados pela subida das matérias primas, dos juros e também da inflação. Naturalmente, uma redução da construção tem reflexo na oferta, o que é ainda mais evidente quando assistimos a fluxos constantes da procura e pode, claro, ter efeito nos preços.

Ao mesmo tempo, existe também, e tem sido identificada por diversas entidades, a escassez de mão-de-obra na construção. E isso coloca dificuldades acrescidas sobretudo num contexto em que é urgente a execução dos fundos, nomeadamente daqueles que resultam do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). A mão-de-obra existente até ao dia de hoje provavelmente não permitirá a execução destes fundos. O que é, sem dúvida, uma notícia preocupante sobretudo se tivermos em conta que dados recentes vieram comprovar que, até ao momento, foram executados apenas 3% dos fundos destinados à habitação, devendo estes estarem integralmente executados até final de 2026. O desafio é muito grande, o sucesso na sua aplicação será muito importante para todos.

Num momento em que discutimos abertamente soluções para a habitação, em Portugal, é prioritário que não se esqueça o desafio de ter mais mão-de-obra disponível sob pena de não ser possível injetar na economia os meios financeiros necessários para a promoção e reabilitação do mercado habitacional público e privado.

E este é, por sua vez, um passo determinante para que se obtenha o aumento da oferta, que é a chave para ultrapassar a atual crise na habitação. Precisamos de mais construção e mais construção segmentada com características que nos permitam chegar às famílias que atualmente não encontram resposta para a sua procura.

O PRR deverá ter um impacto muito significativo no setor imobiliário, com uma expressão a nível nacional, mas apenas se for concretizado. Os programas a ele associados visam, de uma forma geral, responder às necessidades daqueles que necessitam de casa, mas não têm meios para a adquirir no mercado livre, nem as encontram no designado mercado de arrendamento que, em Portugal, tem, infelizmente, tão pouca expressão.

Precisamos, por isso, de todos os projetos de construção e reabilitação resultantes da aplicação dos fundos do PRR para uma nova vida do setor.

Será muito relevante identificar qual a nossa capacidade para alojar as pessoas que escolherem o nosso País para trabalharem. Tudo indica que vamos precisar muito delas, de as acolher dignamente para podermos beneficiar do seu contributo. Estamos obviamente a falar de mais soluções habitacionais necessárias, já.