Carlos Suaréz
Carlos Suaréz
Administrador da VICTORIA Seguros

O setor segurador como investidor na fileira da construção e do imobiliário

25/01/2023

Por força das caraterísticas e necessidades do negócio segurador, investimos em diferentes tipos de ativos e maturidades, entre os quais, produtos produzidos pela fileira da C&I. Por vezes, fazemo-lo diretamente (na figura de promotor imobiliário, contribuinte de capital ou comprador de dívida privada) e outras indiretamente (detentores de dívida soberana, com lugar a investimentos em infraestruturas e projetos públicos). Podemos dizer, assim, que existe uma forte ligação entre as indústrias seguradora e da C&I.

Com o intuito de fornecer valores de referência que sustentem a afirmação anterior, em mercados mais desenvolvidos (como os EUA), as seguradoras dedicadas à exploração de riscos patrimoniais, de saúde, responsabilidades e vida investiram em 2021, de forma direta, 688 mil milhões de dólares no setor imobiliário. Como financiadoras indiretas, contribuíram para a atividade C&I, em 2021, com um volume de investimentos em títulos de dívida pública de 1,4 biliões de dólares (escala longa europeia). Para uma melhor noção, de referir que o investimento em “municipal securities” (dívida emitida por administrações estatais e locais destinada, numa boa parte, à construção de escolas, centros de saúde, sistemas de saneamento e vias rodoviárias) alcançou, nesse ano, os $524 mil milhões.

Para colocar em contexto, três seguradoras faziam parte do “top 10” dos investidores institucionais no setor imobiliário norte-americano em 2018, com um valor de investimento conjunto de $128 mil milhões. Mais interessante é perceber que este envolvimento na indústria da C&I não é apenas conjuntural (em função do ambiente de taxas de juro negativas vivido até há bem pouco tempo e/ou a utilização de estratégias alternativas de captação de rendimento financeiro), já em 2011 as seguradoras de vida dos EUA investiam, de forma direta, $360 mil milhões neste setor.

Voltando à questão central, nós, seguradores, investimos na fileira C&I no intuito de encontrar – em função dos prazos das nossas responsabilidades e das apertadas regras de solvência que regem a nossa atividade – retornos razoáveis, com uma utilização eficiente do capital e proteção face à inflação, captando oportunidades como o crescimento do financiamento não bancário no mercado imobiliário europeu (aprox. 6% , à data vs 1% em 2008). Algumas seguradoras e mútuas de maior dimensão possuem áreas/departamentos dedicados à aquisição, desenvolvimento e gestão de ativos imobiliários, dinamizando o investimento em múltiplas áreas do setor: de escritórios a espaços industriais. Especialmente interessantes, pela liquidez e diversificação de carteiras, são os financiamentos da atividade via sociedades de investimento imobiliário cotadas em bolsa (REIT’s )

Resulta evidente que o valor alocado ao setor imobiliário, nas suas vertentes, depende do perfil e tamanho das carteiras, dos seguradores, até das geografias onde operam, mas não seria descabido considerar que a exposição da indústria seguradora à fileira da C&I não é menor. Vejamos. Segundo os dados das autoridades regulatórias e do mercado, as seguradoras europeias (vida e não vida) colocaram, em 2019, 9% dos ativos de investimento no imobiliário residencial e comercial (sendo certo que, a exposição ao setor tende a ser superior nos países com avaliações imobiliárias superiores). Pela sua vez, nas companhias de seguros de vida norte-americanas o investimento no imobiliário, sem considerar os títulos garantidos por hipotecas, (Mortgage-Backed Securities) atingiu os 14%.

Em jeito de resposta à pergunta colocada: podemos dizer que a indústria seguradora tem um papel relevante no financiamento da indústria da construção e imobiliário, quer na forma de capital, quer na forma de dívida; tanto de forma direta como indiretamente.