Rosário Rodrigues
Rosário Rodrigues
Associada WIRE, arquiteta – Ferreira de Almeida Arquitectos Lda

As Smart Cities: caminhos para o futuro urbano sustentável e inclusivo

18/06/2025

Certamente não se podem resumir a grandes centros da tecnologia e da digitalização, as cidades inteligentes devem ser vistas como ecossistemas humanos, onde a diversidade, a espontaneidade e a criatividade florescem, onde se junta a tecnologia, sustentabilidade e uma gestão participativa onde o ser humano está no centro das decisões. 

Jane Jacobs, uma das maiores pensadoras urbanas do século XX, oferece uma visão critica e profundamente humana sobre a vida das cidades. Critica severamente os modelos de urbanismo modernistas que privilegiavam as grandes avenidas, zonamentos estritos e separação de usos urbanos. Para Jacobs, as cidades não são máquinas a serem desenhadas por tecnocratas. São organismos vivos, ecossistemas sociais que florescem com a diversidade, a espontaneidade e a interação humana. Ela acreditava que a função primordial das cidades é proporcionar às pessoas uma infindável capacidade de escolha.

Isso traduz-se na criação de ambientes urbanos dinâmicos, com ruas vibrantes, bairros de uso misto e uma arquitetura que acolhe a multiplicidade de formas de viver. Ela defendia os quarteirões curtos que facilitam a deslocação a pé, edifícios de diferentes idades e tamanhos e a presença de uma população diversificada. Estes elementos geram vitalidade urbana, promovem interações espontâneas e fortalecem a segurança pública por meio do que chamou de “os olhos da rua”. 

Com base nesses princípios, pode-se argumentar que muitas propostas de Smart Cities atuais falham ao negligenciar o fator humano e a complexidade das relações sociais que ocorrem no espaço urbano. Um exemplo disso é o projeto The Line, na Arábia Saudita. Apresentado como uma revolução urbana, com uma cidade linear de 170 km completamente automatizada e sem carros, The Line tem sido criticado por especialistas pela sua rigidez, artificialidade e por suprimir a espontaneidade e a comunidade orgânica. Esta abordagem representa o oposto do que uma cidade deve ser. 

Uma cidade inteligente de verdade é aquela que oferece múltiplas opções de habitação, transporte, lazer e trabalho. Isso significa planear cidades que permitam a convivência de diferentes classes sociais, géneros, faixas etárias e culturas. Isto estimula a coesão social, fortalece a economia local e torna as cidades mais resilientes. 

A tecnologia nas Smart Cities deve ser uma ferramenta para empoderar os cidadãos e tornar os serviços públicos mais eficientes e acessíveis. Entre os modelos urbanos mais discutidos recentemente está o da “cidade de 15 minutos”, proposta que ganhou destaque com o urbanista Carlos Moreno. Essa abordagem sugere que todas as necessidades essenciais dos cidadãos devem estar acessíveis num raio de 15 minutos a pé ou de bicicleta. Morar, trabalhar, estudar, cuidar da saúde e divertir-se devem ser atividades possíveis dentro do mesmo bairro. 

A combinação entre tecnologia, urbanismo humano, legislação flexível, energias renováveis, modelos de proximidade e formas inovadoras de convívio social como a coabitação intergeracional são as chaves para construir cidades mais justas, resilientes e vibrantes. Portanto, o futuro das cidades não está apenas nos chips, sensores ou na Inteligência Artificial, mas na capacidade de nutrir ecossistemas urbanos onde as pessoas possam viver plenamente, com dignidade, criatividade e liberdade de escolha.