Francisco Campilho
Francisco Campilho
Presidente da Comissão Executiva da VICTORIA Seguros

A sustentabilidade

20/03/2024

Este fórum, seguiu-se ao lançamento, em dezembro, na COP28, da iniciativa Buildings Breakthrough, apoiada por 28 países e pela Comissão Europeia, entre outros, e que tem como objetivo atingir até 2030 emissões de GEE quase nulas e um setor imobiliário resiliente. Apesar da crescente consciencialização, compromissos e regulamentação, o setor não parece estar no bom caminho para atingir a descarbonização global até 2050. É mesmo provável que o impacto climático dos edifícios aumente nas próximas décadas devido ao rápido crescimento, especialmente nas zonas urbanas em rápido desenvolvimento. A situação é, no entanto, bastante diferenciada entre regiões e países.

O Grupo SMABTP, de que a VICTORIA faz parte, é o líder em França de seguros de construção, o que nos permite ter acesso a um vasto conhecimento nesta matéria e, nomeadamente, na resposta ao desafio ambiental. Estima-se que a utilização de edifícios e as atividades de construção representem em França mais de 33% do total de emissões de GEE: cerca de 28% pela utilização dos edifícios (principalmente aquecimento) e 5% pelas atividades de construção e renovação. As projeções efetuadas para o atingimento dos objetivos de neutralidade carbónica a atingir em 2050, implicam uma redução de 95% das atuais emissões de GEE dos edifícios. A utilização atual de edifícios representa em França emissões de cerca de 80 milhões de toneladas (Mt) de dióxido de carbono (CO2). A redução destas emissões vai ser feita em duas etapas. Uma primeira até 2030, que representa um esforço de limitação das emissões para metade, i.e. cerca de 45 Mt de CO2. A segunda etapa tem como horizonte 2050, e deverá levar o setor à proximidade da neutralidade carbónica, i.e. cerca de 5 Mt de CO2.

Perante o desafio das alterações climáticas, os promotores têm a responsabilidade de criar uma dinâmica virtuosa nos seus projetos, afastando-se dos procedimentos antigos e estabelecendo padrões ambientais elevados.  Em França, há uma especial atenção dada à utilização dos solos com vista a controlar a expansão urbana. Por exemplo, a implantação de novos edifícios em antigos terrenos baldios urbanos reconvertidos ou a densificação das zonas urbanizadas existentes, incluindo o tecido suburbano, podem responder a esse objetivo. No caso de terrenos já construídos e ocupados por edifícios degradados, a opção pela reestruturação em vez da demolição/reconstrução pode resultar numa poupança considerável de carbono. Esta opção é particularmente viável para os edifícios de escritórios dos anos 70/80, que podem ser recuperados para uma qualidade de utilização que corresponda aos padrões atuais.

A cada componente de um edifício deverá ser associada uma quantidade de CO2, que passará a ser um fator de seleção das escolhas de construção, da mesma forma que o custo, em euros. A comunicação técnica eficaz é um dos vetores primordiais desta alteração: o impacto ambiental dos vários materiais e produtos tem de ser bem caraterizado.

Os Building Information Modeling (BIM) são programas informáticos que permitem ter acesso e acrescentar informações relevantes sobre o processo de construção. O desenvolvimento do BIM e a sua capacidade de quantificar rapidamente os componentes de um edifício deverão facilitar progressivamente estas avaliações de quantidades de CO2. Numa visão positiva, acrescentar o impacto do carbono à longa lista de restrições que regem os projetos de construção, será também uma oportunidade para uma maior criatividade das soluções.

A dimensão da mudança é enorme e só terá sucesso se todos, no setor de construção e nos outros setores de atividade, nos consciencializarmos desta necessidade de enfrentar os desafios da transição climática. Neste ano em que muitos preparam os elementos para os primeiros Relatórios de Sustentabilidade, este tema ganha uma maior centralidade e atenção nas preocupações dos agentes económicos de todos os setores.