Francisco Campilho
Francisco Campilho
Presidente da Comissão Executiva da VICTORIA Seguros

A sustentabilidade II

17/04/2024

O tema, mesmo numa perspetiva de helicóptero, não se poderia esgotar numa só entrega, pelo que logo de início projetei fazê-lo em vários fascículos, partilhando o vasto conhecimento nesta matéria, nomeadamente na resposta ao desafio ambiental, a que a VICTORIA tem acesso por fazer parte do Grupo SMABTP, líder em França de seguros de construção.

Nos projetos de construção e de renovação, é possível implementar ações concretas para reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) a todos os níveis. Eis alguns exemplos:

- Limitar o número de lugares de estacionamento subterrâneo, não ultrapassando os níveis impostos pelos regulamentos de planeamento locais;

- Sempre que possível, dar prioridade à gestão ou à infiltração das águas pluviais ao ar livre, em vez da construção de estruturas de retenção, evitando, em particular, as estruturas de retenção nos telhados que exijam um reforço estrutural substancial;

- Optar, sempre que possível, por materiais com um menor impacto carbónico (cimento com baixo teor de carbono, madeira, produtos de origem biológica, ligeiramente transformados, etc.);

- Incorporar a abordagem da economia circular no processo de construção, antecipando desde a fase de projeto a potencial reutilização de materiais e produtos de construção, bem como a sua possível reutilização futura. Será necessário prever que os produtos utilizados sejam desmontáveis, para facilitar a sua remoção durante as renovações que terão lugar durante a vida da estrutura, até à desconstrução total do edifício;

- Para as fachadas, assegurar um equilíbrio entre a luz natural, as perdas de calor no inverno e o risco de sobreaquecimento no verão;

- Controlar as perdas de calor através da envolvente do edifício concebendo cada projeto com paredes de espessura suficiente desde o primeiro esboço, utilizando um isolamento de alto desempenho e duradouro;

- Selecionar equipamentos de produção de calor eficientes que utilizem fontes de energia com baixo teor de carbono, como a eletricidade e a madeira. 

Para as empresas, o facto de muitas técnicas de construção estarem a ser postas em causa, significa que têm de desenvolver as suas competências em matéria de carbono, de modo a poderem responder a mercados mais exigentes e desafiar os gestores de projetos sobre as orientações técnicas mais adequadas a tomar. A utilização de novos processos, alguns dos quais fortemente técnicos, também significa que as equipas de construção precisam de ser formadas nas novas técnicas, que se tornarão comuns nos estaleiros de construção. Num ambiente controlado, a qualidade da mão de obra não pode ser uma variável de ajustamento, uma vez que determina a longevidade da estrutura, um critério essencial para controlar o seu impacto carbónico.

A escala da transformação necessária é colossal e cabe a todos os intervenientes no sector da construção e do imobiliário aceitar o desafio das alterações climáticas. É essencial questionar as práticas existentes e partilhar soluções eficazes. Temos de aprender a fazer melhor com menos e a utilizar de forma mais eficiente os recursos disponibilizados pela natureza, para que possamos continuar a construir locais agradáveis e sustentáveis.