Ninguém estava preparado para o que estamos a viver. Só na ficção assistimos a panoramas semelhantes, de cidades desertas e pessoas fechadas nas suas casas, para se protegerem do terrível surto pandémico que invade, pouco a pouco, o mundo inteiro.
Se para a saúde o vírus pode ser muito perigoso, para a economia então nem se fala. Estamos longe de vislumbrar o verdadeiro impacto que o Covid 19 vai ter nas nossas vidas, e as empresas já começam a pedir socorro.
200 milhões de euros. É este o valor da linha de crédito prevista para as empresas de todos os sectores, à exceção do turismo, restauração (e similares), agências de viagem, animação turística, organização de eventos e similares, e indústrias têxtil, de vestuário, calçado, indústrias extrativas e de madeira, que têm à sua disposição uma linha de três mil milhões de euros.
200 milhões de euros são uma gota num oceano onde neste momento se afogam micro, pequenas e médias empresas, que não têm o tempo, os meios, e as condições reunidas para aceder a uma linha de crédito que se esgotará rapidamente e que deveria ser ágil, mas que se apresenta com entraves burocráticos que impedem a resposta célere que o momento exige.
No imobiliário, a situação é crítica. As agências estão encerradas, as escrituras canceladas, não se realizam visitas e há pelo menos 40 mil pessoas de mãos atadas, sem saber como vão por pão na mesa. As mesmas 40 mil pessoas que, só em 2019, garantiram pelo menos 19 mil milhões de euros de investimento no País, do total dos 27 mil milhões que se estimam que o imobiliário tenha representado no ano passado.
Estes números, só por si, deveriam fazer com que este sector fosse objeto de atenção diferenciada e portanto de medidas autónomas, que aquelas que até agora foram apresentadas não contemplam. Já provámos, no tempo da Troika, que somos capazes de nos mobilizar de contribuir para a captação de investimento para o País. Conseguimos, num período em que o sector estava absolutamente estagnado, recuperá-lo e alavancar a recuperação de outros sectores como o da construção ou o do turismo.
E iremos fazê-lo de novo. Estaremos na linha da frente para ajudar a redinamização económica que será necessária depois de nos levantarmos deste tsunami sem precedentes. Quem sabe até se não seremos, mais uma vez, o sector que irá alavancar outros sectores e absorver o desemprego que, infelizmente, se irá registar. Mas para isso, precisamos de meios para sobreviver, pois sofremos carências enormes que, neste momento, não estão a ser contempladas por quem nos Governa. Não há teletrabalho ou take-away que nos possa ajudar a resistir.
Se não formos apoiados, não haverá forma de continuarmos a dar resposta e a desempenhar o papel importantíssimo que temos desempenhado na economia nacional. O imobiliário também é um sector da vida económica. Também emprega. Também traz investimento para o País. Também gera riqueza. Também paga impostos, muitos, talvez muito mais que quaisquer outros sectores do panorama económico nacional.
Merecemos ser considerados.