Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

É tempo de recuar para evitar mais estragos

29/03/2023

Na semana passada, várias notícias deram conta de potenciais consequências negativas em torno da aplicação das medidas de que tanto se fala desde meados de fevereiro. Por um lado, há investidores nacionais e internacionais pessimistas que preferem “esperar para ver”, de acordo com as fontes ouvidas pelo Expresso, e outros pretendem já sair do país, segundo uma entrevista publicada no Jornal Económico. Isso traduz-se no adiamento e na suspensão de projetos. Um impacto ainda não quantificável, mas certamente penalizador, nomeadamente no atual contexto económico.

Por outro lado, cria também apreensão perceber que vínhamos já de um contexto de dificuldade. Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), nos últimos três meses de 2022, foram vendidas 38.526 casas, menos 16% do que no período homólogo e menos 8,8% do que no trimestre anterior. Trata-se do menor número de transações desde o primeiro trimestre de 2021. E também o valor das transações, neste período, caiu 10,5% em relação ao período homólogo para 7,36 mil milhões de euros. Há quatro trimestres consecutivos que o valor das vendas de casas superava os 8 mil milhões de euros.

Apesar desta evolução, o ano passado foi mais um ano muito positivo para o imobiliário nacional, com números nunca vistos. Mas, na segunda metade do ano, o contexto de subida de juros começou a refletir-se no rendimento disponível das famílias e na sua tomada de decisão. Esse é efetivamente um problema que urge resolver.

Vemos com apreensão estes dados e a perspetiva negativa que começa a estar associada ao setor pela possibilidade de mudança de regras a meio do jogo e consequente instabilidade. Para agravar esta situação, estas medidas nem sequer são aquilo que o País necessita e que efetivamente resolveria o problema da habitação em Portugal.

São necessárias medidas que possam contribuir para que o parque imobiliário tenha uma consistência de valor importante para estas famílias. As medidas a implementar devem permitir que as pessoas tenham acesso a habitação. E isso apenas será possível através do aumento da oferta e do aumento da construção em segmentos de valor que até aqui não têm tido praticamente construção, nomeadamente os segmentos mais acessíveis. 

As medidas finais ainda nem são conhecidas e a confiança no mercado já foi abalada. Mas não é momento para desistir. Devemos todos, em conjunto, arregaçar as mangas e trabalhar para recuperar esta mesma confiança e garantir que o imobiliário volta a ser determinante para a economia portuguesa como tem sido nos últimos anos.

Com a economia a enfrentar as consequências da guerra, a inflação e a subida das taxas de juro, o momento é para dar condições ao imobiliário para seguir a sua trajetória de crescimento e para que continue a entregar um contributo determinante para a economia. O setor precisa de estabilidade.