Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

O valor das casas

20/11/2024

Aconteceu em várias ocasiões entre 2017 e 2019, aconteceu em 2020 na sequência da Covid-19, em 2021 com a perspetiva do fim das moratórias criadas, em 2022 com subida da inflação e, mais recentemente, em 2023 com a subida das taxas de juro.

Desta vez, temos uma nova e surpreendente profecia, não pelo seu conteúdo, mas sim pelo seu anunciante. Todos queremos “olhar” para algumas das nossas instituições como um pilar de segurança e de firmeza da nossa sociedade. Queremos considerar as suas opiniões, considerações e recomendações como especialmente sólidas, verídicas e inquestionáveis. 

Agora, o que é sabido é que 73% dos agregados familiares portugueses são proprietários de uma casa e, destes, 62% têm a sua casa paga e 28% estão a pagá-la ao banco. O que significa que é nas casas que se encontram as poupanças da maioria das famílias portuguesas.

Também é do conhecimento de todos, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, que, nos últimos anos, cerca de 90% (a grande maioria) dos imóveis transacionados em Portugal são usados e quem os vende são, na sua maioria, cidadãos portugueses, assim como quem os compra (93% cidadãos portugueses).

Nos primeiros nove meses deste ano, os bancos portugueses financiaram mais de 12.000 milhões de euros para a aquisição de cerca de 104.000 casas. Ora com o valor médio de avaliação bancária neste momento cifrado em 1.695 euros/metro quadrado, os dados do INE apontam para um valor médio de 1.736 euros/ metro quadrado, ou seja, é ínfima a diferença entre o valor médio das avaliações pedidas pelos bancos e os valores pelos quais as casas têm sido transacionadas.

O Banco de Portugal veio agora dar nota de um estudo que aponta para o facto de em Portugal, desde 2018, as casas estarem sobrevalorizadas, o que é muito, muito surpreendente. É surpreendente porque todas as avaliações que este ano os bancos portugueses pediram e que serviram para a construção das suas decisões (de financiar mais de 12.000 milhões de euros nos primeiros nove meses) incorporaram “grosso modo” três diferentes metodologias: um método comparativo em que fizeram comparações entre casas idênticas; uma fórmula de rendimento em que identificaram a rentabilidade possível “daquela” casa; e uma metodologia construtiva em que identificaram quanto custaria construir “aquela” casa. De um modo geral, é da ponderação entre estas três lógicas que resulta um valor.

Foi assim que fizeram, e esperamos todos que, logicamente, o tenham feito bem.

O custo da mão de obra necessária à construção não está sobrevalorizado, ponto. Está caro. Os materiais de construção não estão sobrevalorizados, estão exorbitantes, os terrenos não estão sobrevalorizados, estão caríssimos. Já agora, também não há pessoas disponíveis para venderem as suas casas baratinhas, bem abaixo do que conseguiriam obter.

Esperamos, portanto, que as poupanças de 73% das famílias portuguesas não estejam sobrevalorizadas e que o dinheiro que foi financiado pelos bancos tenha sido muito bem aplicado nas suas casas.

É claro que em Portugal temos 27% de agregados familiares que não tem qualquer casa e para os quais são urgentes soluções, seja por via do arrendamento, seja por via da aquisição a preços compatíveis com os rendimentos e com a realidade dos portugueses.

Mas esse facto não pode levar a um tipo de cegueira em que se pense que se encontrariam soluções empobrecendo a generalidade das pessoas.

Em Portugal as casas não estão sobrevalorizadas, em Portugal as casas estão muito caras e inacessíveis para a generalidade das pessoas que não têm qualquer casa, especialmente porque em Portugal, há muitos anos os rendimentos da generalidade dos portugueses estão subvalorizados.