Mónica Pinto Coelho
Mónica Pinto Coelho
Associada WIRE, Property Marketing Director da CBRE Portugal

O valor humano no imobiliário sustentável

23/07/2025

Se é verdade que os componentes ambiental e de governança têm sido há muito reconhecidos como fundamentais para uma estratégia sustentável, o impacto social representa hoje a fronteira mais crítica e diferenciadora. A mudança não é apenas ética, mas também estratégica: investidores, inquilinos e comunidades estão a valorizar cada vez mais empresas com um compromisso claro com o bem-estar social, inclusão e desenvolvimento económico local.

Mas o que significa, na prática, integrar o impacto social num projeto imobiliário?

Significa promover acessibilidade, com espaços verdadeiramente inclusivos e pensados para todos — incluindo pessoas com mobilidade reduzida ou populações vulneráveis. É incorporar bem-estar e saúde através de edifícios que respeitam o equilíbrio entre funcionalidade e qualidade de vida, com acesso a espaços verdes, luz natural, qualidade do ar interior e ambientes que favorecem o equilíbrio físico e emocional dos seus ocupantes.

É também criar valor para além das paredes, com projetos que geram emprego local, apoiam pequenas empresas, integram espaços de educação ou coworking para empreendedores e impulsionam o desenvolvimento económico das comunidades em que se inserem. E, claro, é garantir que há uma cultura de diversidade e inclusão, tanto na conceção dos espaços como nas equipas que os desenvolvem e gerem.

Estas iniciativas geram impacto — e não apenas social. Para as empresas, são fatores tangíveis de valorização de ativos, de diferenciação competitiva e de atração de investimento ESG, cada vez mais relevante nos mercados financeiros. Além disso, fortalecem a reputação das marcas e aumentam a capacidade de atrair e reter talento, especialmente junto das gerações mais jovens que privilegiam empregadores com propósito.

Contudo, o caminho não está isento de desafios. A definição de métricas claras e transparentes é essencial: número de empregos criados, benefícios diretos para a comunidade, acessibilidade dos espaços, entre outros indicadores que devem ser reportados de forma objetiva. Por outro lado, é necessário garantir sustentabilidade financeira, equilibrando os custos de implementação com um retorno que, mesmo a médio/longo prazo, tende a ser significativo.

O setor imobiliário tem, mais do que nunca, a oportunidade de se posicionar como um agente de mudança social. Os projetos que combinam rentabilidade com impacto humano duradouro serão os que marcarão o futuro do urbanismo e da construção. Porque a sustentabilidade, para ser completa, tem de ser também social.