Esta realidade não é apenas uma questão de números, mas de pessoas que estão a ver a sua qualidade de vida esmagada pela incapacidade de acompanhar o aumento do valor das rendas das casas.
Os números são claros: em apenas um ano, o preço das casas para arrendar aumentou 4,9%. Em cidades como Santarém (15,4%), Braga (11,8%) e Coimbra (10%), o impacto é ainda mais grave, e Lisboa, com valores de 21,9 euros por metro quadrado, continua a ser uma realidade inacessível para muitos.
Quando olhamos para as famílias, vemos o peso deste aumento a ser somado a outros custos que não param de subir – a alimentação, a energia, os transportes. A pressão financeira é cada vez mais desafiante, e a renda tornou-se o maior obstáculo à sobrevivência digna. A previsão de aumento das rendas em 2025, mesmo que aparentemente pequena (2,16% segundo o INE), pode representar uma carga de 207,36 euros anuais sobre uma renda de 800 euros. Para famílias que mal conseguem cobrir as suas necessidades básicas, num país onde o salário mínimo será de 870 euros, este valor faz toda a diferença. Como é possível manter a dignidade, a segurança e o futuro de uma família quando o essencial é inatingível?
A situação nas habitações sociais é igualmente alarmante. Desde 2022, mais de 150 despejos ocorreram, afetando 2.500 famílias apenas nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. O acesso à habitação é um direito que está consagrado na nossa Constituição, mas que, na prática, parece ser apenas um sonho distante para muitos portugueses.
É aqui que entra a necessidade urgente de medidas audaciosas e inovadoras. O problema das rendas não pode continuar a ser ignorado ou tratado com soluções temporárias. Precisamos de sistemas habitacionais que funcionem para todos. O modelo Build to Rent, por exemplo, deve deixar de ser uma ideia no papel e tornar-se uma realidade palpável. Este conceito, que envolve a construção de edifícios destinados exclusivamente ao arrendamento é uma das soluções mais urgentes para aliviar a pressão nos centros urbanos. Criar mais opções de arrendamento a preços acessíveis e com condições dignas é imperativo. Ninguém pode continuar a ser expulso da sua cidade, da sua vida, por não conseguir pagar uma renda.
Além disso, outras iniciativas, como a partilha de alojamento entre seniores e estudantes universitários, têm mostrado resultados positivos em várias partes do mundo. Uma solução que poderia ser alargada e apoiada com mais vigor em Portugal. Idosos, muitas vezes esquecidos e isolados, ganham companhia e um rendimento extra, enquanto os jovens encontram um lugar acolhedor e acessível para viver.
Outro passo essencial é aproveitar o potencial dos imóveis devolutos. O Estado detém uma enorme quantidade de edifícios e casas que há anos, ou até décadas, permanecem vazias e sem uso. Com incentivos adequados e uma verdadeira vontade política, os imóveis poderiam ser transformados em soluções habitacionais acessíveis.
É hora de agir. As soluções estão ao nosso alcance, mas dependem da nossa coragem e da nossa vontade coletiva de fazer a diferença.
Portugal não pode continuar a ser um país onde as suas pessoas são forçadas a viver à margem da sua dignidade. Agora é o momento de transformarmos o desafio do acesso à habitação num compromisso coletivo, onde ninguém será deixado para trás.