Eu próprio tenho pensado, falado e escrito bastante sobre o tema, mas, até agora, não tinha considerado a tecnologia de impressão tridimensional (3D) em betão como uma alternativa plausível para fazer face às necessidades de oferta de habitação pública para determinados grupos populacionais.
Obviamente, não é um tema novo, pois já em 2018 uma família de Nantes estreava uma casa de 95m2 e quatro divisões construída estruturalmente com recurso à impressão 3D. No entanto, a recente inauguração dum edifício de quatorze metros de altura, três andares e 500m2, na região dos Altos de França – utilizando a mesma técnica de aplicação de capas, a mesma tecnologia de injeção servindo-se duma impressora tridimensional e um betão mais económico e com uma pegada de carbono inferior à do tradicional – fez-me pensar se seria prudente eu continuar a ignorar esta possibilidade de construção para o segmento da habitação pública... Quando, ainda por cima, parece ser mais rápida, adaptativa nas formas, menos proclive ao erro e ao desperdício, e com um custo m2 inferior.
A primeira reação ao pensar um pouco sobre a eventualidade de executar um processo de “impressão de casas” que permita atacar o problema da habitação pública acessível, confesso, foi mista. Por uma parte (positiva), percebi as poupanças em recursos finitos, tempo e dinheiro, os impactos positivos na sustentabilidade e circularidade, o caráter industrial (vs. artesanal) da solução, a liberdade estética. Por outra parte (não tão positiva), também entendi a menor necessidade de intervenção humana na obra e os impactos disruptivos nos modelos de negócio (menos sequenciais e mais colaborativos) e nas cadeias logísticas. Seja como for, a evolução mais ou menos voluntária dos atores da indústria atual e a entrada de novos tornar-se-ia obrigatória, tendo como pano de fundo a provável transformação do comportamento do promotor público.
A segunda reação foi dar uma olhadela além-fronteiras para perceber o que se poderia estar a passar com este assunto noutras realidades. Não com pouca surpresa, descobri que no Maine (EUA) estão a estudar imprimir casas acessíveis, sustentáveis, circulares e recicláveis utilizando uma mescla feita a partir do desperdício das suas fábricas de serração (um milhão de toneladas anuais) e resina de milho. Também no Texas estão a imprimir-se casas de habitação social em betão com escala, qualidade de produto, poupança de tempo e custo inferior à construção tradicional. Com a mesma ideia de projeto de habitação acessível, na França imprimem-se, para além de moradias individuais, edifícios de três andares com estruturas simples de betão pouco carbonatado e quase sustentáveis. Pela sua vez, no Canadá, a estratégia nacional de habitação apoia (financeiramente) e incentiva a utilização de novas tecnologias na construção – incluindo a impressão 3D em betão – como forma de acelerar o desenvolvimento dum parque público habitacional mais económico e sustentável.
Com todo o anterior em mente, pergunto-me se a impressão 3D de casas e edifícios em betão – que já demonstra ser mais do que um simples ensaio investigativo – não seria uma hipótese válida para defrontar alguns dos desafios da habitação acessível no nosso país, especificamente na vertente do parque público. Dito doutra forma… deveríamos dessaber a oportunidade de termos casas mais sustentáveis, circulares, adaptadas ao espaço e executadas com menos desperdício, num tempo mais curto e com custos inferiores? Certamente, tem de se estudar muito melhor o tema, mas, assim de repente, a minha resposta seria “talvez não”.