Num cenário global marcado pela incerteza, o nosso mercado mantém-se resiliente e atrativo, com dados que demonstram um interesse crescente por parte de investidores estrangeiros. Curiosamente, França tem vindo a ocupar um lugar de destaque nesse panorama, sendo a questão do momento: será que o “Vive La France” está a destronar o tradicional “American Dream”?
De acordo com dados da Confidencial Imobiliário, nos primeiros seis meses do presente ano, os investidores estrangeiros injetaram 464 milhões de euros na Área de Reabilitação Urbana (ARU) de Lisboa, traduzindo-se na aquisição de 800 imóveis. Os franceses, liderando esta lista, foram responsáveis por 12% das transações realizadas por estrangeiros, superando os norte-americanos, que, em 2023, eram o principal mercado emissor. Esta mudança de paradigma não é apenas um dado estatístico; é um reflexo de tendências económicas, sociais e culturais que devem ser analisadas com atenção.
O apelo francês no mercado imobiliário português pode ser explicado por vários fatores. Por um lado, a procura por uma melhor qualidade de vida, com a tranquilidade, segurança e clima ameno que Portugal oferece e que se encaixa nos anseios de muitos franceses, especialmente num contexto pós-pandémico. Por outro lado, as vantagens fiscais e a estabilidade relativa do mercado português continuam a posicionar o nosso país como uma alternativa atrativa para quem procura investir na Europa. No entanto, este cenário não significa que o mercado esteja isento de desafios. O equilíbrio entre atrair investimento direto estrangeiro (IDE) e garantir soluções habitacionais acessíveis para a população é o grande desafio do momento.
A questão que se coloca é: como podemos aproveitar o IDE para enfrentar a crise habitacional e criar mais oferta para os portugueses? Uma das respostas está na melhoria das condições fiscais e regulatórias. O mercado precisa de previsibilidade e eficiência legislativa, especialmente no que diz respeito a projetos de reabilitação e à intervenção em imóveis devolutos – mudanças que podem transformar imóveis subutilizados em habitações acessíveis, especialmente nas zonas urbanas mais pressionadas.
Além disso, é crucial fomentar o mercado de arrendamento, um setor que continua a ser subaproveitado em Portugal. Programas que incentivem o build-to-rent, com rendas ajustadas às famílias portuguesas, têm potencial para aliviar a escassez habitacional em localizações críticas. Este modelo, já consolidado em mercados como a nossa vizinha Espanha, pode criar uma oferta sustentável e responder a diferentes necessidades habitacionais.
Por fim, é essencial dar suporte às empresas já estabelecidas em Portugal, aproveitando a base de trabalho que têm vindo a consolidar. As empresas, com experiência no terreno, estão bem posicionadas para liderar projetos de transformação urbana que beneficiem tanto investidores como a população local.
Apesar das incertezas políticas e económicas que marcaram o ano, os números demonstram que o mercado imobiliário português continua robusto. Entraremos em 2025 com um setor atrativo para investidores estrangeiros e com medidas em curso para melhorar as condições de habitação para os portugueses. O desafio será encontrar um equilíbrio sustentável entre o investimento externo e a satisfação das necessidades habitacionais locais. O “Vive La France” pode ser uma inspiração, mas o verdadeiro sonho, seja americano, francês ou português, deve ser garantir que todos tenham acesso a uma habitação digna, num país que permanece aberto ao mundo e ao futuro.