A boa dinâmica da procura imobiliária vai continuar a marcar o ritmo de valorização do mercado em 2025, especialmente no segmento residencial. Os constrangimentos atuais deverão manter-se, mas as medidas anunciadas pelo Governo deverão ser postas em prática, defendem os especialistas.
Em declarações ao Público Imobiliário, Carla Meireles, diretora da área de Dinamização de Imobiliário do Millennium bcp, refere que “sabemos que, do lado da oferta, os constrangimentos não terão solução óbvia ou imediata. Os custos de construção, as limitações à capacidade produtiva e a necessidade de ampliar a oferta de habitação a preços acessíveis continuarão a marcar os principais desafios do Imobiliário residencial em Portugal. De resto, este desafio é extensível à realidade do arrendamento, onde a oferta continuará a não dar resposta a todas as necessidades”.
A responsável destaca algumas tendências “que poderão criar dinâmicas positivas de ajustamento do mercado”, nomeadamente a descida das taxas de juro, “perspetivando-se que decorram de forma moderada e alongada. Poderão, ainda assim, estimular paulatinamente o crescimento e a revitalização do mercado, por via do impacto no poder de compra de muitas famílias”. Por outro lado, as políticas de apoio à habitação, nomeadamente para os jovens que querem adquirir o seu primeiro imóvel, “poderão facilitar o acesso ao mercado, esperando-se uma diminuição das barreiras burocráticas”.
A sustentabilidade estará na ordem do dia, acredita: “mais do que uma tendência, as preocupações do consumidor final com a sustentabilidade, impulsionadas também pelos incentivos para construções mais ecológicas e energeticamente eficientes, são agora uma exigência do mercado. Crescerá continuamente a procura de imóveis sustentáveis, com integração de soluções de energia solar, gestão eficiente de águas e materiais de construção que minimizem o impacto ambiental”.
Em paralelo, segundo Carla Meireles, a transformação digital “também será cada vez mais uma condicionante de sucesso no mercado imobiliário. Com o recurso à inteligência artificial, à automatização e análise de dados, está aberta a porta para maior eficiência, otimização de custos, análise de novas tendências de mercado e identificação de novas oportunidades”.
Habitação precisa de medidas em prática
Hugo Santos Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários, não tem dúvidas de que “o ano de 2025 será particularmente importante para o setor e para as famílias”. Depois de um 2023 menos positivo para o investimento imobiliário, em 2024 “regressou a confiança e o dinamismo ao mercado”, principalmente no segundo trimestre. Mas recorda que, “ainda que o ânimo se mantenha, os operadores desesperam por visibilidade no terreno das medidas públicas e legislativas prometidas para trazer mais oferta, e mais rápida, ao mercado, nomeadamente na habitação. As as medidas anunciadas e prometidas, há muito desejadas e reclamadas, tardam em aparecer e o mercado desespera”.
“Vivemos há mais de seis meses sem um Simplex operacional. Continuamos há décadas a produzir cada vez menos casas porque os nossos políticos na Assembleia da República, da esquerda à direita, cedem às pressões ideológicas e não concebem que, sem uma redução do IVA na construção nova de casas para os portugueses, não haverá casas acessíveis e, ainda porque, continuamos sem ver o Estado disponibilizar às famílias o seu vasto património de terrenos e edifícios, deitados ao abandono”. Por isso, “esperamos que 2025 seja o tempo da concretização das medidas que o Governo anunciou”.
Paulo Caiado, presidente da Direção Nacional da APEMIP, considera que o mercado se prepara “para mais um ano desafiante”, nomeadamente no que toca à habitação. A oferta limitada, combinada com a escassez de mão-de-obra e a “lenta implementação das políticas governamentais” continuarão a ser obstáculos significativos à atividade, acredita. Mas reconhece que as medidas do Governo e o programa “Construir Portugal, assim como o investimento de 2.800 milhões de euros previsto no Orçamento do Estado para 2025 “vão procurar dar resposta a estes desafios. Mas os benefícios destas iniciativas só se farão sentir a médio prazo devido a atrasos burocráticos”.
O responsável defende que “em 2025 é necessário olhar para o setor de forma crítica, apostando em novos formatos, como a construção modular, a industrialização e o Build-to-Rent a preços controlados”. Mas, apesar de todos os desafios, “o setor imobiliário português continua a mostrar resiliência e capacidade de adaptação. A conjugação de esforços entre o setor público e privado poderá, nos próximos anos, transformar o mercado imobiliário num motor de crescimento económico e de bem-estar social para todos”.
Construção pode consolidar-se “como uma das principais forças da economia”
O ano que agora arranca pode ser “uma oportunidade para consolidar o setor da construção como uma das principais forças da economia portuguesa”, defende Manuel Reis Tampos, presidente da CPCI e da AICCOPN. Defende que “além de impulsionar o crescimento económico, o setor terá um papel crucial na melhoria das condições habitacionais, no desenvolvimento de infraestruturas e na promoção da sustentabilidade”.
Em particular, a execução acelerada do PRR “exigirá maior eficiência nos processos de contratação e realização de empreitadas públicas para recuperar atrasos e maximizar os investimentos. Paralelamente, será essencial enfrentar o desafio da escassez de mão de obra, reforçando a formação profissional e implementando estratégias eficazes para atrair trabalhadores, nacionais e estrangeiros, garantindo a capacidade de atingir as metas definidas”.
A AICCOPN estima que a produção no setor da construção cresça entre 3% e 5%, superando o ritmo de crescimento do PIB nacional. O segmento da habitação deverá crescer entre 1% e 3%, sustentado pelo elevado nível de procura por casas novas ou reabilitadas. Mas “este crescimento continuará a ser insuficiente para resolver os problemas estruturais do mercado, sendo necessária e urgente uma aplicação mais abrangente da taxa reduzida de IVA nas obras de reabilitação e construção”.
Em paralelo, o segmento de edifícios não residenciais, por sua vez, deverá apresentar um crescimento moderado, situado entre 0% e 2%, “refletindo uma evolução cautelosa em resultado de um ambiente de incerteza económica e uma recuperação mais lenta do investimento empresarial”. Quanto ao segmento de engenharia civil, este deverá continuar a crescer, alavancando por projetos financiados pelo PRR e Portugal 2030, com um aumento da produção estimado entre 5% e 7%.
Resumindo estas perspetivas, Carla Meireles conclui: “sabemos que a volatilidade com que as tendências evoluem no mundo atual condiciona as decisões de investimento e consumo. Do setor financeiro português, e do Millennium bcp em particular, as empresas e as famílias podem contar com um parceiro de confiança, preparado para ajudar a encontrar soluções de mitigação dos riscos e de superação dos desafios de contexto”.